90 anos de resiliência...
Daí os taxistas vinham tomar um café, comer um sanduíche e bater papo com seu Paulo.
Eles saiam de lá com dinheiro trocado e uma boa história para contar. E rodavam a cidade
inteira, falando do Almeida pros passageiros e amigos.
Resultado: a fama correu a cidade, o bar se tornou restaurante, com pratos que se tornaram clássicos da casa.
E um novo tipo de cliente foi fazendo parte do dia-a-dia do Almeida.
Ou melhor, das noites: a boemia santista aparecia em peso pra jantar. Às vezes, nos horários mais improváveis. Meia-noite, 2 da manhã... 4 da manhã... 6h da manhã.
Naquele tempo, a noite dormia tarde.
E desde aquele época, o Almeida ficou conhecido como o restaurante mais democrático da cidade. Com suas mesas lado a lado, conviviam magistrados e estivadores, profissionais da noite e médicos, pessoas da alta sociedade e taxistas, políticos e artistas. Pessoas com vidas e histórias tão diferentes, mas que ali compartilhavam a mesma paixão pelo Caldo Verde, pelo Filé Almeida, ou pela sobremesa Mineiro de Botas, flambada ao rum.
Agora quero falar sobre as coisas que existem hoje: a história da nossa família.
Esse ano é muito especial pro Almeida. Mas em particular pra nossa família.
O Almeida faz 90 anos. E meu pai, Jayme, faria 100 anos.
Ele chegou de Portugal, com 11 anos.
Como todo imigrante, começou a trabalhar muito cedo.
E em 78, meu pai e mais dois amigos assumiram o Almeida.
E ele liderou uma nova mudança na casa: transformar o Almeida em um restaurante também do dia.
O almoço praticamente não existia.
Mas isso mudou rapidamente. Famílias inteiras lotaram nossas mesas a partir do meio-dia.
O Almeida também passou a ser o ponto de encontro dos almoços de negócios. Muitas empresas e sociedades nasceram ali.
Mas não se enganem: nós não trocamos a meia-noite pelo meio dia.
Continuamos virando a noite, atendendo os clientes da boemia, que também começaram a vir em peso pro almoço.
Pra muitos deles, aquela era a primeira refeição do dia.
Já pediam o café pra tomar junto com o pão com manteiga do couvert.